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  • Quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005


    Devido ao fato de estar sobrecarregado de funções musicais nesta semana convidei um amigo meu – pintor - que vivenciou de perto duas histórias policiais singelas. Deixo vocês nas mãos do querido Olavo Teixeira.


    Contos Policiais
    (baseados em fatos reais)
    por Olavo Teixeira

    Aquela noite seria especial. Fazia tempo que eu sonhava com um pouco de paz em meu namoro, e naquela noite, tudo daria certo.

    Era dia dos namorados e iríamos fazer um piquenique em uma praça segura, escolhida a dedo, tomando vinho e comendo um saboroso jantar, feito por minhas próprias mãos.

    Tudo estava dando certo, saindo maravilhosamente belo. Tudo bem que não tínhamos taças apropriadas para aprisionar a Periquita, mas fazia parte do piquenique-teórico pensado na minha insana cabecinha, natural, totalmente desprovido do conforto de um quarto de motel, hotel, ou da minha própria casa.

    Havia muitos pássaros por perto, quero-quero, corujas, e outras aves noturnas, que faziam um constante ruidinho de fundo, com seus pios, e as leves patinhas à pisar nas folhas secas, perto do círculo de pedras onde estávamos.

    Meia garrafa tinha-se ido, e fermentava nossas consciências que borbulhavam amor. O jantar deu base saborosa para o pouso suave do vinho, e o estômago também retribuía com amor, à digestão. Cérebro, coração e estômago. Que mistura ideal, quando bem equalizada.

    Acendemos um cigarro cada um, e namorávamos felizes e em paz.

    De repente houve o inesperado infortúnio. Estávamos cercados com lanternas apontadas para os nossos olhos. Como em uma tática de guerrilha utilizada em países em guerra, fomos abordados por cinco policiais (ou representantes de uma instituição... não deveriam ser chamados de policiais) que nos cercaram, com as mencionadas lanternas, enquanto outros dois esperavam-nos em baixo das pedras, no caso de fugirmos.
    Tenho que admitir que foi impressionante a perícia no ato de “seek and destroyer”, mas dois namorados, tomando vinhos e comendo numa praça necessitam de tamanha demonstração militar ?

    Como tenho mais intelecto do que aquelas pequenas mentes atrofiadas pelo desuso, convenci-os de que era um erro estarem lá, e nos abordarem daquele jeito, e assim foram em paz, sem ao menos uma revista e pedindo-nos desculpas.

    Se você achou isso um absurdo, a próxima situação a ser narrada é ainda pior.

    (...) ************************************************(...)

    Todos acham que os policiais só realizam e fazem atrocidades na periferia. Vocês não estão errados em pensar assim, porque realmente fazem, mas também realizam atos terroristas nos bairros de classe média alta.

    Duas amigas minhas, médicas, saindo do turno do seu plantão, antes de irem para casa, resolveram fumar um pequeno baseado, para relaxar, em uma pracinha isolada, não tão perto do hospital. Estariam indo para casa após, e obviamente não tinha nada de errado nisto (fora o fato da absurda lei de contravenção... é crime embreagar-se de cannabis, mas não crime entorpecer-se de álcool), já que não iriam voltar ao hospital, andavam de metrô, e estavam relaxando, era melhor do que tomar uma cervejinha -pensavam elas.

    Foram à praça e sentadas de branco num banquinho sossegado tinham seus instantes de relax, esquecendo um pouco da rotina árdua que tinham diariamente, ajudando outras pessoas, entregando-se a elas.

    Sentiram apenas um cutucão às suas costas. Dois policiais pegaram-nas e sem possibilidade de conversa, justificativas, colocaram-nas na viatura, onde estava um terceiro policial e começaram a dar voltas por São Paulo aterrorizando-as. Diziam que elas iriam ser presas, e duas patricinhas bonitinhas, loirinhas e cheirosinhas como elas, seriam bonequinhas de todo um pelotão feminino de mulheres, presas por terem cometido crimes, e outras até inocentes, como o caso das duas médicas, mas que depois de meses, ou anos, encarceradas juntas às coisas mais infames, sujas e desumanas deste mundo, acabam se corrompendo.

    Depois de quase uma hora de gasolina gasta, pagas com o imposto da democracia, disseram que se elas quisessem não passar por isso, teriam que tirar todo o dinheiro das suas contas correntes.

    Pararam em um banco vinte quatro horas, ficaram a uma distância segura das câmeras de vigilância (todos estavam sem os seus nomes colocados sobre os uniformes), e fizeram-nas sacar todo o dinheiro.

    Deixaram-nas quilômetros de distância sem dinheiro nem para o metrô.

    Qualquer semelhança com um seqüestro relâmpago é mera coincidência.

    Quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005


    O que é perceber uma música?


    O que é perceber uma música ? Não sei. Mas estou tentando saber.

    Ontem ao sair de um concurso de música, encontrei-me com minha namorada e fomos até a USP rever uns amigos e relaxar um pouco. Deparei-me com um amigo que não via talvez há 2 dois anos, que estudava no instituto de física comigo, e na mesma época que saí para estudar música ele foi estudar filosofia.

    Sentamos nas grandes pedras da praça do relógio e uma conversa interessante surgiu.

    Disse a ele que há tempos uma inquietação mental não me deixa em paz. Contei-lhe que ao meu ver um ocidental ouve a música com o ouvido, que aparentemente não tem nada de anormal, mas na verdade é um fato absurdo.

    Todos já devem ter notado que ao se submeter o corpo às proximidades de uma grande caixa de som, as freqüências graves são sentidas em ondas pelo nosso corpo. Você ouve também com o corpo as batidas do drum ‘n bass por exemplo. Para um ocidental, como eu, só nos extremos percebemos isso, geralmente nos graves, ou nos limites agudos, quando sentimos dor ou incômodo dentro do ouvido.

    Para um oriental, devido às suas postura “yogue” de ser, o perceber a música passa por todas as moléculas do corpo, porque o a música realmente gera vibração em nossos corpos, apenas não estamos treinados para detectá-la, não crescemos adestrando esse sentido, além dos cinco, SENTIR AS VIBRAÇÕES, com o corpo.

    Isto estava muito claro para mim, em termos físicos e musicais, que somos pequenos, nossa percepção infantil limitada nos engana dizendo-nos que ouvimos alguma coisa, mas não sabia até que ponto era viagem minha ou não. Poderia ser alguma alucinação interna de algum eu meu querendo provar alguma teoria minha.

    Este meu amigo falou que ao estudar filosofia oriental deparou-se com algo parecido com o assunto das minhas inquietações.

    Disse que para um ocidental a análise de qualquer amostra, fator, ou valor (em questão básica e diretamente ligada à percepção) é a análise do corpo denso, e para o oriental é o estado. Isso seria o suficiente para embasar a minha teoria. Que provavelmente nem é minha, talvez já tenham pensado nisso, mas naquele momento era minha e dele (já que ele abraçou a conversa com afinco).

    Mas o fato de um oriental ouvir a música desse jeito, organicamente, cada nota percebida por cada molécula do corpo, é maravilhoso, gostaria muito de chegar a esse nível de consciência, mas ainda não é tudo. É claro que é mais abrangente, mas não completo, porque a música cíclica é muito diferente da música linear, e depois de milênios pensando no universo cíclico a música passou a ser assim também, e este estado de perceber as coisas por estados é mais fácil de se chegar quando se pensa naturalmente ciclicamente, não linearmente como nós. Mas a música linear existe também, e não deve ser desprezada, pois é muito poderosa.

    Provavelmente até depois de milênios da civilização oriental, como no caso da Índia, até o os corpos físicos sejam mais sensíveis, mais evoluídos nesse sentido... sei lá !

    Houve certa vez um maestro da Índia que estando assistindo uma apresentação sinfônica ocidental, após os músicos afinarem os seus instrumentos antes ainda da execução da obra musical em si, pôs-se ereto e aplaudiu afinação. Para ele, aquele puxar e soltar de cordas, de palhetas, de bocais já era música. Que lição de humildade para nós, não ?

    E fico eu a pensar. O que é perceber uma música ?

    Quinta-feira, 03 de fevereiro de 2005


    POESIALUCINOGENACONTADA


    Quente. Calor entorpecente
    Nas três mãos suadas da gente
    Juntas, formando quatro superfícies.

    Em Londres, o frio anestésico
    Mostra fúria e poder gélidos
    Escondendo as seis mãos monolíticas

    Em luvas, no bolso ou cerradas.
    Aqui no México, separadas
    Das luvas, unidas às mãos.

    Entorpecente furioso, pai e mãe
    Experimentaram, enquanto el brujo
    O filho carregava ao seu cuidado.

    John e Anna viam quatro,
    Cada um tinha quatro,
    Mãos e pés, mas não iguais
    Em “duas duplas de dois” – riram !

    Consciente John, e Anna no momento
    Às vezes subconsciente
    em quatro pares
    De combinação super cientes em

    Jc-Ac
    Jsc-Ac
    Jc-Asc
    Jsc-Ac

    Viam tudo com os olhos da percepção
    ........ Abertos, mas não tão abertos para ver o infinito que é grande. Acredite !

    Abertos apenas em dois.
    O Consciente abraça o seu par noturno.

    Ela tornou-se intensificada
    Com cores fantásticas
    De um mundofluido de sonhos

    Abarcam em vigília
    A dividir a mente.
    Tantos sons no deserto.

    OUÇA !
    OUÇA !
    OUÇA !

    Do México guardaram a viagem
    E agora John e Anna voltaram
    A ser dois e receberam de volta

    O filho do brujo. Voltarão
    A Londres os três, modificados.
    Os pais fundiram-se novamente.

    Consciente e subcosnciente
    Vigília e grande sonho da gente
    Adormecidos pela ocidental tradição

    Acidental tradução não ocorrerá
    Alberto, o filho, sabe do dia a vir
    Ao México, ao brujo nagual retornará.

    Aberto à percepção será no dia
    Da iluminação. Suas consciências
    Reunirá com el brujo, como em seus pais.

    No frio de Londres, as seis mãos
    Juntas, em três pares guardados
    Nas luvas, não mais separadas.

    O frio anestésico
    Com seu poder gélido
    Em ventos a esmo.

    Cortam a pele, do rosto a rachar.
    As luvas não mais separam
    O Eu mesmo !